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Coisas de bebê: o andar na areia

Como mãe, uma das coisas de bebê que eu mais incentivei foram as atividades ao ar livre, principalmente o andar descalço na areia. Mas, quais são os benefícios dessa caminhada na areia?  Por que meu bebê fica tão cansado após essa exposição? Isso é bom para seu desenvolvimento motor? Como?  Não seria melhor e mais confortável deixar o pé do meu bebê andar num lugar plano e limpinho?

Muito prazer, sou a Liria, diretora de Pesquisa da Anamê e vamos juntos conversar sobre os bebês nos seus primeiros mil dias.

Mundo Natural: pé e areia

Antes de mais nada, só de pensar na areia e o pé do seu bebê já te dá arrepios? Deixar o bebê brincando na areia deixa muitos pais com o cabelo em pé! Além da sujeira, a areia coça, tem que tomar cuidados com os olhos e a principal “etiqueta” do tanque de areia: não jogar no coleguinha. Além do medo de contaminação por micoses e viroses…..

No mundo natural, filhotes de todas as espécies caminham facilmente entre vários tipos de terrenos. Terrenos naturais tem muitas propriedades mecânicas que influenciam a caminhada.  Do mesmo modo, o pé dos nossos bebês precisam se ajustar constantemente a diferentes terrenos que amortecem, ajustam e suavizam a marcha.  Terrenos com substratos macios como a areia tem efeitos profundos da mecânica e energética da locomoção.

Os estudos de marcha de bebê

A marcha humana é muito estudada em laboratórios de análises de movimento 3D trazendo inúmeras informações sobre este nosso método de locomoção. A mecânica desse movimento e a energia que é despendida durante a marcha é um tema muito descrito mas, que na sua maioria é estudada em superfícies duras, niveladas e não derrapantes, que não simulam em nada o que acontece na natureza (Adoplh et al, 2013). Se quiser saber um pouco mais sobre as fases que compõem a marcha humana, falamos dela aqui.

Apesar de ser de senso comum que andar na areia é bom, parece que ninguém sabe exatamente o porquê.  Estudos científicos descrevem que há um maior gasto de energia quando caminhamos na areia. Será que isso é bom?

O gasto energético da marcha

Estudos sobre a energia do movimento humano são importantes para entender o trabalho  que é feito pelo corpo humano para que ele possa se movimentar. Para que possamos ir de um lugar para outro, o corpo queima energia, como uma máquina.  Nós humanos, tendemos a selecionar uma velocidade de preferência de caminhada. Por exemplo, você pode observar na rua, cada um tem a sua velocidade, uns mais rápidos outros menos. Essa velocidade é um fatores  que minimiza esse custo de transporte. E não adianta andar mais lentamente, isso também gera um custo energético grande!

Em sujeitos saudáveis, numa velocidade auto selecionada, o custo do transporte é em torno de 0,8 calorias/metros/kg (Zarrugh et al, 1974). Nas crianças entre 3-4 anos de idade, há um aumento em torno de 50% desse gasto. Em velocidades maiores, onde o custo energético da marcha é maior, crianças dessa idade chegam a ter um consumo até de 70% maior que um adulto. E olha que estamos falando de estudos são feitos com a marcha em linha reta, o que não acontece quando falamos de crianças/bebês.

O gasto energético do andar na areia

Do mesmo modo, gastamos mais energia quando caminhamos na areia do que quando caminhamos num chão reto como das nossas casas. O aumento de esforços necessários durante a marcha em superfícies macias como a areia é devido a um trabalho  músculotendíneo maior que deve ser feito. O sistema locomotor é capaz de manter e economizar a energia pela marcha continua com o movimento pendular, no qual 60- 70% da energia mecânica do centro de massa do corpo pode ser resgatado por meio do mecanismo de troca de energia potencial/cinética numa velocidade ótima (você pode ler um pouco mais sobre isso aqui).

De qualquer forma, o custo metabólico de andar na areia é aumentado como consequência principal do resultado do trabalho feito num solo instável e pelo pé no solo. Isso indica que os mecanismos que utilizamos para conservar energia durante a marcha no solo rígido não acontecem em solos mais macios como na areia e/ou que os músculos, nessa atividade, atuam de forma diferente nesse tipo de solo, sendo que seu trabalho é muito maior uma vez que o pé trabalha no substrato.

Diferenças de andar na areia e no solo estável para o pé do bebê

Durante a marcha em superfícies rígidas, pouco do trabalho é feito pelo ambiente. A força de reação do solo, seguindo a terceira lei de Newton, é a força que surge quando o nosso corpo exerce uma força sobre o solo. Em determinada fase da marcha ( e, nas suas fases subsequentes), a energia dessa força  é absorvida pelos músculos e tendões. Parte da energia elástica absorvida pode ser reutilizada para produção de força no próximo passo, aumentando a eficiência geral, considerada a eficiência máxima de conversão de energia além da química em mecânica pelos músculos.

Entretanto, a  locomoção em superfícies dinâmicas como a areia, significa que há trabalho feito pelo ambiente, ou seja, o substrato absorve energia, o que representa perda de energia pelo corpo. Então essa energia deve ser substituída em cada passo por uma maior atividade pelos músculos e há queda da eficiência “perfeita”.

Estudos indicam que esse gasto energético se dá pelo aumento de força e resistência muscular além de resistência cardiopulmonar.  Um importante aspecto desses estudos é que um aumento da força muscular afeta diretamente na qualidade da marcha (Einsgber et al, 2006).

Bebês em torno de 1 a 3 anos de idade, que estão começando a caminhar, quando andam em solos instáveis como a areia, são desafiadas o tempo todo e, aprendem várias formas de lidar com essas diferenças. Aumentando seu repertório de movimento e ajudando a aprender a caminhar melhor. Calçados biomiméticos, ou seja, calçados com um design baseado na natureza podem fornecer os benefícios da caminhada na natureza, que são muitos…. para o seu bebê urbano.

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Anamê, tecnologias para cuidar da vida!

Espero que tenham gostado! Se tiver dúvida é só perguntar que iremos te responder!

Um abraço apertado, com carinho da Liria da Anamê

Dra. Liria Okai-Nóbrega. Pesquisadora, Doutora em neurociências e pós doutora em ciências da Reabilitação.

 

 

 

 

 

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