A terapia cognitivo-comportamental é uma modalidade de psicoterapia que ajuda as crianças a elaborar o turbilhão de sentimentos diante de estímulos familiares, escolares e mesmo midiáticos.
A cada dia que passa, torna-se mais comum encontrar crianças que visitam o terapeuta semanalmente ou quinzenalmente. Isso acontece não só porque distúrbios como ansiedade e depressão infantil estão aumentando, mas porque é justamente durante a primeira infância que as emoções humanas estão se desenvolvendo, assim como a personalidade do seu filho.
Por isso, neste post você vai conhecer melhor essa modalidade de psicoterapia e como ela é aplicada. Além disso, vamos explicar como essas práticas atuam não apenas no tratamento, mas na prevenção de distúrbios psiquiátricos. Boa leitura!
A terapia cognitivo-comportamental
Há pouco tempo atrás acreditava-se as crianças não possuíam maturidade cognitiva para usufruírem da psicoterapia. A terapia cognitivo-comportamental, no entanto, se apropria de técnicas e de linguagens não verbais que fazem parte do ambiente lúdico infantil para poder dialogar com os pequenos.
A essência dessa modalidade é que o terapeuta não seja um mero analista, e sim que empodere a criança a ser ativa em seu próprio processo de elaboração psíquica. Ou seja, tendo recebido um diagnóstico de alguma patologia ou não, toda criança precisa saber identificar suas próprias emoções e as emoções daqueles que o cercam.
Essa habilidade, quando trabalhada em conjunto com estratégias de comunicação, colabora para a construção de relações interpessoais mais saudáveis ao longo da vida.
Em geral, as consultas de TCC são estruturadas e possuem foco no tempo presente. Além disso, o psicólogo qualificado para essa modalidade pode lançar mão de recursos como desenhos, jogos e brincadeiras que ajudem a acessar o imaginário da criança. Finalmente, a abordagem e a intervenção educativa com os pais é a parte mais importante do tratamento.
Em suma, a terapia cognitivo-comportamental para crianças tenta entender como os aspectos cognitivos podem originar transtornos emocionais e comportamentais. Por isso, o terapeuta tenta identificar quais são as dificuldades vivenciadas naquele momento pela criança; eventos importantes de sua infância; qual a percepção que o indivíduo tem de si mesmo e do outro. Igualmente, crenças, estratégias de recompensa e expectativas da família em direção a ela também têm relevância no tratamento.
Tal pai, tal filho
O treinamento parental é muito importante na TCC, porque possibilita ao terapeuta modificar aspectos cognitivos e comportamentais dos pais que estão condicionando ou interferindo na postura do filho.
Quando os pais estão abertos e dispostos a se entregarem à terapia, os resultados clínicos são mais rápidos e positivos. Primeiro porque eles passam a compreender melhor como seus filhos funcionam. Segundo, porque aprendem como podem atuar no processo de criação da criança, favorecendo a mudança de atitudes.
Basicamente, os pais serão treinados e orientados a como manejar situações específicas com crianças que têm dificuldade de comportamento como, por exemplo, agressividade ou déficit de atenção. Isso é importante porque, no processo educativo das crianças, sentimentos e falhas dos pais também acabam transparecendo em gestos e palavras das mais diversas formas, e isso é percebido pela criança.
Além disso, as crianças também estão sujeitas a estímulos que vem da mídia, de propagandas, de coleguinhas, professores e outros familiares. Por isso, é extremamente importante que todo o núcleo familiar lide com a experiência da terapia-cognitivo comportamental como uma oportunidade de aprendizado para todos, e não só para o pequeno.
Participando da psicoterapia, o pai e a mãe passam a compreender melhor qual é de fato seu papel na educação da criança e como podem oferecer um ambiente seguro, em que o filho se sinta à vontade para falar sobre seu sentimentos e dificuldades.
Assim como a TCC visa tornar o sujeito ativo em relação aos seus sentimentos, a abordagem dos pais também visa torná-los independente do psicoterapeuta. Com o tempo, você saberá como gerenciar adequadamente as diversas situações em que a criança se envolve. Entendeu?
Quando recorrer à TCC
Você já sabe que a terapia cognitivo-comportamental não é indicada apenas para crianças com problemas psiquiátricos ou distúrbios graves de comportamento. Cada vez mais crianças e adolescentes procuram apoio psicológico para lidar com conflitos absolutamente corriqueiros da vida, mas que se forem ignorados, podem gerar prejuízos definitivos em sua qualidade de vida e autoestima.
Apesar disso, alguns padrões específicos de comportamento infantil e algumas condições psiquiátricas se beneficiam mais da psicoterapia, entre elas:
- criança birrenta ou com comportamento intransigente;
- criança com fobia social;
- Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH);
- Transtorno Desafiador Opositor (TDO);
- criança ansiosa ou deprimida;
- criança com transtornos alimentares;
- Transtorno do Espectro Autista (TEA);
- dificuldades de aprendizagem.
A TCC aplicada na prática
Na sequência, apresentamos a você alguns exemplos práticos de técnicas validadas pela literatura científica, e que são usadas por psicoterapeutas para abordar os pequenos.
Brinquedos terapêuticos
Psicoterapeutas utilizam-se de um baralho das emoções, que ajuda a criança a identificar como está se sentindo. Cada carta contém uma expressão facial de uma emoção básica (amor, a tristeza, a alegria, a raiva, o medo e o nojo).
Outra opção é o relógio dos pensamentos-sentimentos: a criança desenha um relógio e, no lugar dos números, estão rostos que representam as emoções. Assim, o pequeno consegue indicar como está se sentindo naquele momento. Por outro lado, o terapeuta utiliza a analogia do relógio para mostrar que as emoções mudam com o passar das horas.
Outra técnica conhecida é a da máscara do herói para a resolução de problemas. O paciente constrói uma máscara estampada com a imagem de um herói ou personagem à sua escolha. O artefato tem como objetivo fazer com que a criança enxergue o problema sob ótica do personagem que ela tanto gosta e se sinta autoconfiante para resolvê-lo. Essa é uma ferramenta importante de empoderamento e fomento da autoestima.
Contos e histórias
Histórias que contam situações análogas às que a criança está vivendo são muito úteis na TCC, porque ajudam a criar identificação com o personagem e, assim, fazem a criança pensar sobre seus sentimentos. Além disso, elas costumam ter desfechos que servem de lições morais de como a criança deve lidar com seus problemas.
O terapeuta pode usar, por exemplo, metáforas como a do vulcão e sua lava ou a do super-herói Incrível Hulk para abordar assuntos como raiva e agressividade.
Técnicas de relaxamento
A meditação, o treinamento da respiração diafragmática e técnica do relaxamento progressivo são utilizadas principalmente em pacientes ansiosos. Nesta última, o paciente deve tensionar e relaxar diferentes músculos por vez.
Para explicar isso às crianças, os terapeutas pedem que elas imagine, por exemplo, o corpo rígido de um robô e, em seguida, o corpo mole de uma boneca de pano. Já a respiração diafragmática pode ser treinada por meio da formação de bolhas de sabão.
Exposição graduada
Essa técnica é muito útil em crianças com traumas e fobias a determinadas situações. A ideia, portanto, é expô-la gradualmente aos estímulos que ela não tolera, mostrando que ela está segura e que é capaz.
Junto ao terapeuta, a criança estabelece uma meta que possui dificuldade de alcançar e, depois, constrói um plano de ação. O terapeuta irá incentivá-lo no processo até que a meta seja cumprida, como se fossem fases de um jogo.
Tomada de decisão
Uma atividade chamada balança de vantagens e desvantagens ajuda indivíduos indecisos e inseguros no que tange à tomada de decisão. Basicamente, o terapeuta desenha ou recorta uma balança impressa de papel e a criança deve escrever, em cada lado da balança, vantagens e desvantagens relativas à questão que precisa ser resolvida.
Com tantas estratégias bacanas disponíveis na terapia cognitivo-comportamental você nem vai precisar lançar mão da antiga lenda do homem do saco para fazer suas crianças se comportarem bem. Aliás, deixar nossas crianças com medo é coisa do passado.
Atualmente, já se sabe que criança feliz é aquela que se sente segura, que pode falar sobre seus sentimentos, temores e, sobretudo, que é estimulada ao autoconhecimento.
A Noeh quer saber quais estratégias você usa para educar seus filhos. Deixe um comentário e nos conte!
Noeh, tecnologias para cuidar da vida!
Espero que tenham gostado! Se tiver dúvida é só perguntar!
Um abraço apertado, com carinho da Noeh
Referências:
- A prática cognitiva na infância e na adolescência / organizado por Renato Maiato Caminha, Marina Gusmão Caminha e Camila Arguello Dutra. – Novo Hamburgo : Sinopsys, 2017.
- Fundamentos e aplicações da Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças e adolescentes. Revista Brasileira de Psicoterapia.
- Aumento da depressão na infância e adolescência preocupa pediatras. SBP.