Anteriormente, no post coisas de bebê, falamos de forma geral sobre o desenvolvimento do pé das crianças nesta fase. Neste post, vamos conversar mais sobre as pesquisas em relação ao desenvolvimento do pé do bebê (II).
Muito prazer, eu sou a Liria, Diretora de Pesquisa da Anamê e, juntos vamos caminhar neste mundo dos bebês nos seus primeiros 1000 dias…
O pé do bebê: porque é tão importante?
O conhecimento do desenvolvimento estrutural e funcional do pé do bebê é extremamente importante para pesquisadores e profissionais da saúde. A princípio, a transição entre a posição sentada para a marcha independente leva em torno de 9 meses para acontecer. E é durante essa fase que as estruturas e funções do pé precisam responder aos desafios de suportar o peso do corpo do bebê e ao mesmo tempo se movimentar. Uma função dupla de estabilidade e movimentação.
Nesse ínterim, os sistemas neuromuscular e sensorial estão numa fase de adaptação rápida e, para que a criança consiga caminhar independentemente, o seu sistema precisará de força, equilíbrio e movimentos coordenados. Ainda mais que, é por meio dessas estruturas importantes de suporte, que o bebê se permite explorar, interagir e investigar os ambientes físicos e sociais. Em outras palavras, nesta fase do início do caminhar é que o bebê interage mais com o ambiente, desenvolvendo habilidades tanto motoras, cognitivas e sociais. Apesar dessa importância, existem poucas pesquisas sobre o desenvolvimento do pé em si. Os estudos geralmente focam na descarga de peso do corpo sobre o pé e na interface do pé com o solo. Mas, e o desenvolvimento?
O desenvolvimento do pé do bebê
A natureza da morfologia e anatomia do pé do bebê, no início da aquisição de marcha, tem sido considerada, geralmente, pela quantificação das dimensões do corpo. O peso do corpo mais que dobra desde o nascimento até seu primeiro ano de vida. Além disso, o comprimento da perna aumenta em torno de 50% do nascimento até os 18 meses de idade. 50% do comprimento do pé é alcançado em torno de 12-18 meses de idade.
O desenvolvimento da anatomia do pé é completa por meio de ossificação total e maturação do esqueleto que acontece progressivamente nos ossos do pé. A ossificação do tarso começa pelo calcâneo, seguido do cubóide e navicular (Price, 2018). Este desenvolvimento esquelético acontece num pé com um arco plantar plano com grandes áreas de contato e níveis altos de gordura subcutânea.
Além disso, o nosso sistema mecânico tem propriedades físicas dinâmicas. Em outras palavras, além do tamanho do nosso corpo, temos as propriedades visco elásticas dos músculos e tendões, a inércia do movimento e tudo isso, relacionado com a habilidade de ajustar o movimento ao ambiente externo (DeWolf et al, 2020).
O desenvolvimento do pé do bebê: morfologia
Apesar do pé do recém nascido ser bem parecido morfologicamente com o de adulto, o pé no nascimento e de crianças maiores difere na sua anatomia funcional e na sua capacidade física. A morfogênese é uma consequência das forças externas, sendo um resultado de uma adaptação funcional que ocorre por meio da realização das funções. Nesse sentido, as fases de engatinhar e o início da marcha mudam a forma como as forças estavam sendo realizadas e como consequência, os músculos e ligamentos se tornam mais fortes, os tecidos conectivos mais espessos e há uma rotação dos maléolos do tornozelo.
Segundo Luximon (2013), o quadril roda internamente pela influência da descarga de peso e do próprio crescimento. Ao mesmo tempo, o geno varum das pernas, muito comum nas fases iniciais da primeira infância, muda gradualmente para uma posição mais alinhada. Mudanças resultantes nas cargas compressivas na região medial induz a um aumento do crescimento da cartilagem epifisária medial. Dessa forma o fêmur e a tíbia se tornam mais longos na sua porção medial ao mesmo tempo que os maléolos rodam externamente. Esses processos interativos causam um alinhamento das pernas e tem uma relação funcional com as mudanças do pé.
Alterações
Alterações importantes acontecem no retropé: o tálus de um bebê é mais pronado e numa posição mais medializada comparada com o adulto. O tálus e o calcâneo tem um crescimento assimétrico e todos os processos de maturação acontecem na posição em pé e durante a marcha. O eixo do pé muda rapidamente durante os 2 primeiros anos. Depois, as mudanças são mais graduais e espontâneas. Em torno dos 3 anos de idade o tornozelo fica numa posição mais neutra. O alinhamento do retropé acontece a posteriori, uma vez que em torno dos 4 anos de idade existe ainda um genu valgo dessa região (15-20 graus). A rotação dos maléolos no tornozelo finaliza em torno dos 5 ou 6 anos de idade.
O desenvolvimento do pé do bebê: maturação dos tecidos moles
Todas as estruturas dos tecidos moles dos pés como, músculos, tendões, gordura e tecidos conectivos, já são diferenciados no recém nascido. Entretanto, a sua rigidez e resistência não é completa até a vida adulta. Dessa forma, o tecido conectivo denso nos pés das crianças difere da do adulto. Os tendões e ligamentos tem menos ligações cruzadas nas suas fibras de colágeno, em outras palavras, eles são mais flexíveis. O aumento das ligações cruzadas aumenta a rigidez mecânica e isso não acontece até a idade escolar. Apesar da consolidação da densidade dos tecidos moles começar entre a idade de 2 a 4 anos, a sua completa maturação não acontece antes da adolescência.
Os músculos já são visíveis na oitava semana de gestação mas, seu delineamento só é completo no nascimento. O fortalecimento dos músculos acontece após o nascimento, quando a gravidade e os movimentos se tornam mais relevantes.
O desenvolvimento do controle motor do pé do bebê
Bebês adquirem muitas atividades motoras básicas gradualmente durante o seu primeiro ano de vida. Acredita-se que ashabilidades se desenvolvem de uma forma distinta, numa progressão cabeça para o pé: controle da cabeça em torno dos 3 meses, alcance em torno dos 5 anos, sentar aos 8 meses e andar em torno de um ano. Esta visão clássica de tendência céfalo-caudal reflete o aumento do controle cortical sobre a circuitaria medular e tronco encefálica. Dessa forma, os movimentos do chute vistos em bebês nos primeiros meses, geralmente são consideradas expressões não voluntárias e espontâneas de geradores centrais de padrão.
Mas, outras evidências sugerem que bebês tem o controle voluntário das suas pernas bem antes desse desenvolvimento descrito anteriormente. Em torno de 8 semanas de vida, bebês podem aumentar a frequência do chute se isso aumentar o movimento de um brinquedo (tipo móbile). Em torno dos 3 meses de idade, bebês produzem padrões de movimento específicos intra e intermembros se necessário para movimentar um móbile ou mesmo alcançar um brinquedo (Galloway & Thelen, 2004).
A forma, estrutura e função do pé está portanto, em constante modificação por toda a infância, uma vez que o pé se desenvolve principalmente como uma estrutura em função da descarga de peso do corpo, nas posturas e na marcha, mesmo que seja a partir de um órgão utilizado inicialmente também para o alcance ( Luximon,2013).
A influência da marcha no desenvolvimento do pé do bebê
Primeiro, algumas influências no padrão de marcha em bebês se deve às diferenças na antropometria, forma e distribuição da massa entre diferentes segmentos do corpo. Todos esses parâmetros se alteram consideravelmente durante todo o curso do desenvolvimento até a idade adulta. Isto implica numa atualização contínua do sistema pelas mudanças nos fatores mecânicos.
A diferente distribuiçao de massa entre os segmentos e portanto, a localização do seu centro de massa, induz à modificações no equilíbrio, o que afeta potencialmente a emergência do comportamento locomotor. Fica claro que a forma do corpo, a morfologia óssea e a estrutura do pé em crianças são diferentes da dos adultos. Além disso, isso também muda com a descarga de peso e a experiência locomotora durante o desenvolvimento.
Em particular, o pé dos bebês vai de mudanças de desenvolvimento significativas em formato e tecidos moles da região plantar. Nessa fase, há a presença de um coxim adiposo na superfície plantar dos bebês e a ossificação dos ossos do pés acontece durante os primeiros anos de vida. Esse fatores são importantes especialmente porque o arco longitudinal do pé, que age como se fosse uma mola, é uma característica única no pé humano e, uma adaptação evolucionária essencial para o mecanismo de mola da corrida. Portanto, funções diferentes do pés devem ser esperados em bebês quando comparamos com um pé de adulto que já tem estrutura o suficiente para apresentar esse comportamento de mola do pé.
Por isso a importância de maiores experiências em diferentes ambientes para este pé em desenvolvimento, se não é possível, um calçado biomimético já ajuda bastante!
Achou esse artigo útil? Poste nas suas redes sociais, pode ser útil para outros pais também!
Anamê, tecnologias para cuidar da vida!
Espero que tenham gostado! Se tiver dúvida é só perguntar que iremos te responder!
Um abraço apertado, com carinho da Liria da Anamê
Dra. Liria Okai-Nóbrega. Pesquisadora, Doutora em neurociências e pós doutora em ciência