fbpx
#Alimentação

Alergia à proteína do leite ou intolerância à lactose?

A diferença entre alergia à proteína do leite de vaca e intolerância à lactose parece ser a dúvida do século. Que atire a primeira pedra quem nunca ouviu alguém falando abobrinha sobre esse assunto e confundindo conceitos essenciais para entender essas duas condições.

Enquanto a alergia pressupõe uma resposta exacerbada a um antígeno considerado “estranho”, nesse caso a proteína do leite, a intolerância se deve à insuficiência de uma enzima que digere o carboidrato lactose.

O objetivo deste post é esclarecer direitinho como funcionam a alergia e a intolerância ao leite. Vamos explicar, também, qual delas é mais comum nos bebês e como cada uma delas pode evoluir. Vamos lá?

Alergia à proteína do leite de vaca: o que é?

Trata-se da alergia alimentar mais comum em crianças com idade inferior a três anos, embora suas manifestações gastrointestinais possam aparecer em qualquer idade. O leite da vaca contém mais de 20 proteínas diferentes que podem causar hipersensibilidade, entre elas estão a α-lactoalbumina, a albumina de soro bovina e as caseínas.

Basicamente, o sistema imunológico do bebê identifica essas proteínas como corpos estranhos e organiza uma resposta de ataque, que pode ou não ser mediada por imunoglobulinas do tipo IgE. Essas imunoglobulinas são um marcador de gravidade e de predisposição a outras alergias alimentares e respiratórias no futuro.

Quão comum é a doença?

No que diz respeito à prevalência, a alergia à proteína do leite de vaca está presente em 2 a 3% dos lactentes, sendo apenas 0,4 a 0,5% deles bebês em aleitamento materno exclusivo. Ela também é bem incomum (menos de 1%) em crianças após os seis anos de idade. 

Esses dados nos mostram, assim, que as crianças são mais vulneráveis em seu primeiro ano de vida, e que o aleitamento materno exclusivo até seis meses de idade é um fator de proteção contra as hipersensibilidades alimentares. Não é muito difícil entender isso quando nos lembramos que todos os sistemas orgânicos do bebê ainda estão em amadurecimento durante o primeiro ano; isso inclui o sistema de defesa. 

Além disso, o leite materno é rico em anticorpos, principalmente IgA, que revestem a mucosa gastrointestinal do bebê e ajudam na maturação do seu sistema imunológico. As imunoglobulinas e outras substâncias do melhor-alimento-do-mundo ajudam no desenvolvimento da microbiota intestinal, fornecendo proteção extra contra as alergias. 

Finalmente, é bom lembrar que a alimentação do bebê deve começar a se diversificar só do 6º para o 7º mês com o primeiro alimento salgado, seguindo recomendações do pediatra. Isso nunca deve acontecer antes dos quatro meses. Ademais, o leite de vaca nunca deve ser introduzido antes da criança completar 1 ano. 

Quais são os sintomas da alergia ao leite?

As manifestações clínicas da alergia ao leite de vaca são gastrointestinais, cutâneas e respiratórias. No trato gastrointestinal, a alergia provoca uma inflamação, e podem ocorrer: 

  • náuseas;
  • vômitos;
  • dor abdominal; 
  • diarreia;
  • refluxo gastro-esofágico;
  • sangue ou muco nas fezes;
  • recusa alimentar;
  • prisão de ventre;
  • vermelhidão ou fissuras em volta do ânus. 

Na boca, pode-se observar lábios inchados e que coçam, além da sensação de “aperto na garganta”. Uma das grandes diferenças dos sintomas da alergia para os da intolerância é que, aqui, costumam aparecer outros sinais típicos de alergia.

Só para ilustrar, pode ocorrer coceira na pele e dermatites, inchaço em volta dos olhos, nariz coçando, escorrendo ou congestionado. Dificuldade para respirar e sensação de fechamento da garganta são sinais de alarme para uma anafilaxia; você deve procurar assistência médica correndo!

Meu filho vai ser alérgico para sempre?

A boa notícia é que aos 3 anos de idade mais de 80% das crianças já conseguem tolerar a proteína do leite de vaca. Crianças que não entram em remissão geralmente têm pais ou irmãos com história de rinite alérgica, asma, dermatite atópica ou alergia alimentar. 

Nesse sentido, o tratamento inicial envolve restringir todos os lácteos da dieta por pelo menos 1 ano, fazer acompanhamento nutricional e vigilância do crescimento. Depois desse prazo, pode ser feita a reintrodução lenta e gradual dos lácteos, mas essa é uma decisão que depende do tipo de resposta imunológica específica do seu filho e, portanto, deve ser debatida com o pediatra.

A restrição total aos lácteos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, também se aplica à mamãe que amamenta. Isso porque alguns antígenos do leite de vaca podem acabar passando para o leite materno e desencadeando a alergia. Nesse caso, a nutriz precisa fazer acompanhamento nutricional e suplementar vitamina D e cálcio.

Pede-se, ainda, que os cuidadores tomem cuidado com mãos sujas de leite de vaca ou beijos e saliva contendo os antígenos do alimento. Em alguns casos específicos de alergia alimentar a mãe não precisa fazer dieta restritiva, mas isso deve precisa ser conversado com o médico.

Entretanto, nem pense em interromper a amamentação por causa disso! Lembre-se que seu leite é um escudo contra as alergias alimentares. Aliás, é importante você saber que substituir o leite de vaca por outros leites animais, como cabra ou ovelha, não resolve o problema. Esses leites também têm antígenos em comum com o de vaca, e têm potencial de desencadear a alergia igualmente.

Intolerância à lactose: o que é?

A maioria das pessoas nasce com a capacidade de digerir lactose, que é o principal carboidrato do leite e a principal fonte de energia até a idade do desmame. Agora, não estamos mais falando da proteína do leite de vaca, e sim de um carboidrato que está presente no leite não só de vaca, mas também no leite materno.

Estima-se que em torno de 75% da população do mundo perca a sua capacidade de digerir totalmente a lactose em algum momento da vida. Isso acontece não devido a uma alergia, mas a uma insuficiência de lactase, a enzima responsável por quebrar esse carboidrato. 

Quando a lactose não é quebrada em pedaços menores, as células do nosso intestino delgado são incapazes de absorvê-la e ela acaba chegando no intestino grosso. Lá, bactérias da nossa microbiota começam a fermentar esse produto, gerando sintomas muito desagradáveis.

Quais são os tipos de intolerância à lactose?

Embora seja muito raro um bebê nascer sem a capacidade de digerir a lactose, pode acontecer. A condição em questão é genética, se chama intolerância congênita à lactose e impede o aleitamento materno. Nesse caso, a criança precisa se alimentar de uma fórmula especial sem lactose. 

A maior parte das pessoas, no entanto, tem a intolerância à lactose chamada hipolactasia do “tipo adulto”. Apesar do nome, ela pode aparecer a partir dos 3 anos de idade. As manifestações clínicas mais graves, de fato, costumam ser progressivas e acometem principalmente pessoas mais velhas. 

Provavelmente, você já ouviu algum especialista falar sobre o ser o humano ser a única espécie que continua tomando leite depois de adulto, né? Pois é. Realmente, o leite pode começar a não descer muito bem depois de certa idade ou se ingerido em grande quantidade. Todavia, a maioria dos indivíduos que têm essa redução parcial da produção de lactase tolera de um a dois copos de leite ao dia e derivados lácteos, pelo menos.

Pode acontecer, finalmente, um terceiro tipo de intolerância à lactose, chamado secundária ou temporária. Ela é desencadeada por doenças que causam lesões no intestino delgado, como doença celíaca, gastroenterite viral e doença de Crohn. Bebês prematuros, por exemplo, que ainda não produzem lactase em quantidade suficiente, podem sofrer com isso. Eventualmente, a tolerância pode voltar à normalidade uma vez retirado o agente que está causando a inflamação intestinal.

Quais são os sintomas da intolerância à lactose?

Diferentemente da alergia à proteína do leite de vaca, a intolerância à lactose causa sintomas mais restritos ao sistema gastrointestinal. O paciente pode perceber aumento do peristaltismo, dor abdominal e diarreia. 

À medida que as bactérias do intestino grosso começam a fermentar a lactose, são produzidos gases que provocam arrotos e ruídos no abdômen. Em algumas situações menos comuns pode haver constipação, mas no lactente predomina o quadro de diarreia fermentativa, vômitos e desidratação. 

Como lidar com a intolerância à lactose?

O diagnóstico de intolerância à lactose é confirmado por um teste de tolerância ou por um exame respiratório que detecta o gás produzido pelas bactérias. O tratamento se resume em fazer uma dieta livre de lactose. Hoje, isso ficou bem mais fácil, haja vista a quantidade de produtos desse tipo disponíveis no mercado.

Por outro lado, quando a intolerância é secundária à gastroenterite, Crohn ou doença celíaca, é necessário suspender a lactose por 4 semanas. Nesse período, a mucosa inflamada tende a se recuperar e existe a possibilidade do leite poder ser reinserido na alimentação. Enquanto isso não ocorre, todavia, é melhor fazer uma dieta pobre em alimentos que fermentam fácil, também chamados FODMAPs

Já no caso da hipolactasia do adulto, você já sabe que o indivíduo costuma tolerar até 300mL de leite parcelados em duas porções por dia. Queijos com mais de 3 semanas de cura e iogurtes também costumam ser bem tolerados por essas pessoas. Ou seja, basta reduzir um pouquinho o consumo, que os sintomas devem melhorar.

Pronto. A partir de hoje ninguém mais vai falar em intolerância à proteína do leite e nem em alergia à lactose. Chega de confusão! Agora, você entendeu que a doença mais comum entre os pequetitos é a alergia à proteína do leite de vaca e não a intolerância à lactose. 

Embora ambas as condições possam pedir certa restrição de lácteos na dieta, a maioria dos bebês alérgicos não vão ter mais o problema depois dos 5 anos de idade. Já a intolerância à lactose tem a evolução oposta, e costuma piorar com a idade.

Quer ficar por dentro de tudo o que você precisa saber para cuidar do seu bebê nos primeiros mil dias de vida? Não deixe de assinar a newsletter Noeh!

Noeh, tecnologias para cuidar da vida!

Deixe na caixa de comentários suas dúvidas, e conte com a gente!

Um abraço apertado, com carinho da Noeh

 

Referências

  1. AMAMENTAÇÃO E ALERGIA / IMUNOLOGIA Diferenças na composição do leite materno protege a criança contra o desenvolvimento de doenças alérgicas. SBP
  2. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2014, vol XXIII, n.º 2 72 artigo de revisão. Alergia às proteínas do leite de vaca com manifestações gastrointestinais
  3. Revista Médica de Minas Gerais. Alergia à proteína do leite de vaca
  4. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 2 – Diagnóstico, tratamento e prevenção. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia
  5. Recomendações Sociedade de Pediatria de São Paulo. Atualização de Condutas em Pediatria. Departamento de Gastroenterologia Intolerância à lactose.Gestão 2010-2013 nº 61 Agosto 2012 
  6. O que são FODMAPs? Federação Brasileira de Gastroenterologia 
Cadastre-se e ganhe 5% em sua primeira compra