Coisas de bebê: o bebê anda diferente ou ele está fazendo uso de estratégias de marcha?
A marcha é a habilidade de se mover de um lugar para outro. Embora pareça ser uma atividade fácil, já que caminhamos de um lugar ao outro facilmente no dia a dia, podemos entender melhor seus desafios quando observamos o início da caminhada dos nosso bebês, não parece tão simples assim, não é? Apesar de nos basearmos na marcha do adulto, é claro que a marcha de bebês são diferentes…..
Muito prazer, eu sou a Liria, Diretora de Pesquisa da Anamê e, juntos vamos caminhar neste mundo dos bebês nos seus primeiros 1000 dias…
Desenvolvimento da marcha e as pesquisas
Em primeiro lugar, falamos do desenvolvimento da marcha aqui. Além dos aspectos do desenvolvimento e da aprendizagem dessa nova habilidade motora, as pesquisas nesta área geralmente são com poucas crianças. Ainda mais pela dificuldade dessa idade seguir certos protocolos. Outra característica é que os estudos são transversais, ou seja, são num determinado momento e não acompanham o desenvolvimento dessa tarefa ao longo do tempo.
Essas limitações nas pesquisas nessa área, traz contrastes. Por exemplo, o aumento da cadência (isto é, número de passos por minuto) descrito em algumas pesquisas se mostrou constante ao longo dos primeiros 5 meses de início da aquisição de marcha. Em outras pesquisas, a cadência aumentou somente nos primeios 2 a 3 meses e depois diminuiu.
De qualquer forma, é de senso comum nesta área, que os primeiros 5 a 6 meses de marcha independente produz uma integração da postura ereta com a dinâmica da marcha. Que, com o passar do tempo acontecem ajustes finos que permitem então a marcha mais semelhante ao do adulto, como conhecemos.
Bebê anda diferente ou estratégias de marcha?
Durante as primeiras semanas de desenvolvimento da marcha, há uma grande variabilidade na forma como os bebês começam a caminhar. Seja como for, há estudos que mostram estratégias gerais que auxiliam a entender a marcha nessa fase. McCollum foi um dos pioneiros a falar sobre estratégias utilizadas como forma de obter a marcha independente.
São elas: i) Rotacional (Twister): que usa a rotação do tronco para facilitar a progressão dos passos; ii) Caidor (Faller) : que usa a ação da gravidade para a progressão do centro de massa e, iii) Passador (Stepper): que usa o controle da progressão do pé para estabilizar a trajetória do centro de massa.
Os bebês podem então, usar essas estratégias mecânicas ou uma combinação entre elas. Depois desse período de iniciação, eles começam a apresentar características da marcha mais semelhante ao mecanismo do pêndulo, encontrado na marcha dos adultos.
Estratégias de marcha independente: Rotacional
Maria Cristina Bisi é uma pesquisadora italiana que vem estudando a maturação do desenvolvimento do controle motor. Entre suas várias pesquisas, ela traz um artigo onde classifica essas estratégias de desenvolvimento de marcha independente, baseado no trabalho de McCollum.
As figuras que seguem, trazem um esquema ilustrativo dessas estratégias. A criança que usa a estratégia rotacional, por exemplo, faz uso dos músculos do tronco para gerar um torque rotacional sobre a base de suporte. Esse tipo de estratégia usa o tronco como uma mola, rotacionando e levando a perna de balanço para frente usando o torque e o momento angular do tronco, quase como um compasso.
Estratégias de marcha independente: Caidor
A marcha do caidor é baseado na ação da gravidade. A criança explora a ação da gravidade para progredir seu centro de massa.
Ela faz uso da troca da energia potencial gravitacional em energia cinética como quando “caimos” e, em seguida da geração de energia potencial se colocando na postura ereta novamente usando as forças dos músculos da perna e do torque vertical.
A criança que usa essa estratégia, anda nas pontas do pés por alguns instantes, e “cai” para frente vagarosamente. Nessa “queda”, a criança coloca o pé de balanço para frente para brecar a queda e, dessa forma, transformar o momento de queda para um momento que favoreça a anteriorização.
Um passo rápido, próximo do chão, faz com que a criança retome a posição inicial. Como o equilíbrio nessa estratégia é baixo, geralmente o “caidor” não consegue parar se não tiver algum objetivo que o pare (como um adulto ou mesmo um sofá).
Estratégias de marcha independente: Passador
Nessa estratégia, a criança controla seu pé para frente para estabilizar a progressão do centro de massa. Em outras palavras, podemos descrever essa estratégia como uma estratégia conservadora ou de equilíbrio, uma vez que a criança realiza pequenas excursões com o pé a partir de uma posição estável e equilibrada de duplo apoio.
Nessa estratégia, o bebê dá pequenos passos , levantando um dos pés pela flexão do joelho. A criança que usa essa estratégia de passador tem um bom equilíbrio tanto na fase de balanço como na fase de apoio.
O pé é rapidamente deslocado sem “queda” ou rotação do tronco, usando principalmente a potência dos músculos das pernas
Variedade das estratégias de marcha independente
Deve ficar claro que essas são formas gerais de classificação mas, que há variações dentro delas. Elas mostram que de certa forma, a simplicidade, uma vez que o bebê ainda tem um pequeno repertório, ou seja, poucas possibilidades de movimento. Além disso, assim que o bebê começa a caminhar, ele começa a criar mecanismos de adaptação que se modificam com a experiência.
Estudos indicam que há mudanças na forma do caminhar em torno de 2 meses após o início da caminhada independente. Nesse sentido, provavelmente há um aumento do controle postural, que reflete significamente em toda a marcha.
Ainda nesse estudo, as estratégias mais utilizadas foram de Passador e Rotador. Esse tipo de qualificação nos dá uma base para melhor compreensão do desenvolvimento da marcha mas, sempre temos que considerar a grande variabilidade que existe entre os bebês. O bebê anda diferente ou ele está fazendo uso de estratégias de marcha?
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Espero que tenham gostado! Se tiver dúvida é só perguntar que iremos te responder!
Um abraço apertado, com carinho da Liria da Anamê
Dra. Liria Okai-Nóbrega. Pesquisadora, Doutora em neurociências e pós doutora em ciências da Reabilitação.