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O bebê e o andador

O andador para bebês facilita a aquisição de marcha? Há problemas no desenvolvimento motor com o uso de andadores para bebês?  O andador causa acidentes?

Há muitas controvérsias sobre o uso do andador em bebês. Vamos conversar para tentar responder um pouco dessas perguntas? Muito prazer, eu sou a Liria, Diretora de Pesquisa da Anamê e hoje teremos um convidado especial, Dr. Thiago Teles, fisioterapeuta, professor, pesquisador e pós doutorando, sendo sua pesquisa atual com o tema de locomoção de crianças. Vamos juntos caminhar neste mundo dos bebês nos seus primeiros 1000 dias?

O que é um andador para bebês?

O andador para bebês é um aparato que inclui um assento que tem como suporte uma bandeja que fica em volta do bebê.  Dessa forma, o andador fornece apoio para a criança sentada além de auxiliar a postura ereta. Além disso, devido às rodinhas, o andador se move conforme a criança se desloca (Jankowki, 1993). 

Segundo os fabricantes, o andador é uma forma conveniente de um bebê fazer a transição do engatinhar para a marcha. Mas, será que é mesmo?

Surgimento do andador para bebês

O andador para bebês tem sido usado há séculos. Há indícios de uso deste aparato desde o século XVII. A idéia era dar liberdade de movimento para as crianças, tempo para a mãe realizar as atividades domésticas e oferecer segurança, uma vez que a criança não seria capaz de tocar em locais perigosos, como fornos quentes, por exemplo.

Desde então, a vida moderna tem modificado a rotina dos bebês. Muito pouco se fica em casa e, com os apartamentos, o espaço dentro das casas reduziu.  A rotina mudou assim como o próprio andador que modificou a sua forma e há sempre lançamentos com novos componentes de segurança. Mas, mesmo assim, somente nos EUA, há 2000 casos anuais de acidentes com o uso do andador.

Controvérsias de uso do andador para bebês

A Sociedade Brasileira de Pediatria desaconselha o uso desse dispositivo devido ao alto número de acidentes relacionados ao seu uso (por exemplo:  quedas de escadas associadas a  traumatismos crânio-encefálicos) bem como à expectativa de atraso na aquisição da marcha relacionada ao uso. Apesar disso, um estudo  mostra que 77%  dos pais americanos, decidiram usar o andador e desses, 3/4 julgaram o equipamento benéfico e, 1/4 relataram que o andador atrasou a aquisição da marcha ou foi causa de acidentes.

O que a maioria dos pais atestam é que uso do andador para bebês permite que os filhos explorem o ambiente, gerando prazer aos pais de ver a independência dos filhos além do andador diminuir a frustração de mobilidade das crianças. Nessa fase ainda limitada. Opiniões profissionais sobre o assunto entretanto, são geralmente bem hostis. Dois são os  principais problemas relacionados com o andador para bebês: acidentes com o aparato como quedas de escadas e queimaduras além, do atraso no desenvolvimento motor que ele causa (Burrows e Griffiths, 2002)

O atraso no desenvolvimento motor

A marcha é uma das aquisições motoras mais festejada pelos pais.  É  em torno dos 12 meses que se inicia a caminhada independente. E, uma das justificativas pelo não uso do andador para bebês é que ele levaria a atrasos na aquisição dessa habilidade motora.

Imagem ilustrando o bebê e a análise de marcha

Um estudo feito aqui no Brasil e, publicado neste ano (2020), verificou se o uso do andador para bebês atrasa a aquisição da marcha e se modifica a maneira como a criança anda. Foram acompanhadas 32 crianças desde o início da aquisição da marcha, ou seja, quando a criança conseguiu dar 5 passos sem ajuda e, elas foram acompanhadas por seis meses. Dessas crianças, 16 usaram e as outras 16 não usaram andador antes de começar a caminhar independentemente. As avaliações foram feitas em laboratório sofisticado de análise do movimento. Dessa forma, foi possível verificar se o uso do andador gerava qualquer alteração biomecânica. Além disso, as crianças foram avaliadas periodicamente com testes clínicos para identificar o seu desenvolvimento motor.

O estudo demonstrou que o uso do andador não alterou a idade na qual a criança começou a andar. Foram observadas algumas diferenças entre as crianças que usaram andador daquelas que não usaram. Algumas características foram diferentes entre os grupos somente quando a criança começava a andar, mas que tendiam a desaparecer ao longo do tempo. Os autores concluíram que as diferenças observadas não eram sugestivas de patologia e sim, que as crianças andavam de acordo com a experiência que tinham sido submetidas antes de começar a andar. 

Um outro trabalho de revisão sobre os efeitos do uso do andador na aquisição da marcha também não encontrou diferenças significativas entre crianças que usaram e não usaram andadores para bebês antes da aquisição de marcha.

Pesquisas e realidade

Os estudos indicam que o uso do andador para bebês não atrasa a aquisição dessa habilidade motora. Mas, pode modificar a marcha da criança.  Apesar disso, não pode-se inferir que isso leva a uma marcha alterada ou patológica. Mais parece uma adaptação das crianças a um artefato que foi introduzido no seu ambiente. Assim como a fralda afeta a forma como a criança caminha, o andador para bebês não seria diferente.

Uma das características recorrentes dos estudos que não viram diferença na marcha de crianças com e sem o uso de andadores para bebês foi o tempo de uso. Na maioria dos trabalhos, os pais descreveram no máximo, 1 hora de uso por dia. O que nos leva a entender que aspectos sobre a rotina de uso e o momento de início devem ser ainda estudados. Dados empíricos mostram que o uso excessivo desse aparato, como qualquer outro, pode sim, aumentar a probabilidade de acidentes e talvez a mecânica do movimento dos bebês.

Benefícios X Malefícios

Os benefícios descritos pelas mães que fizeram uso do andador para bebês foram o senso de autoeficácia e atitudes mais independentes e pró-ativas das crianças no ambiente domiciliar. Enquanto algumas mães relatam aumento dos riscos, facilitando acesso a locais e objetos perigosos (Chagas et al, 2011). Nesse meio tempo, na percepção dos pais, não parece haver grandes modificações nos aspectos musculoesqueléticos como força nas pernas, por exemplo.

De qualquer forma, consideramos o padrão ouro dos padrões de movimento aquele livre, de artefatos e de modificações, o mais natural possível. Se decidir fazer uso do andador, tome muito cuidado com o ambiente – evitando proximidade com degraus e escadas e não o use por tempo muito prolongados. Ofereça também estímulos e atividades em outras posições. Proporcionando uma variedade de estímulos para que seu bebê cresça forte e independente.

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Espero que tenham gostado! Se tiver dúvida é só perguntar que iremos te responder!

Um abraço apertado, com carinho da Liria da Anamê

Dra. Liria Okai-Nóbrega. Pesquisadora, Doutora em neurociências e pós doutora em ciências da Reabilitação.

 

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