O caminhar é uma das fases mais esperadas e festejadas do desenvolvimento motor do seu bebê. Há muitos estudos sobre a marcha em crianças com o objetivo de entender a “maturação” desse movimento, que acontece em torno dos 4 anos de idade e, as principais diferenças com a marcha de um adulto. Mas, o que é o caminhar e como a biomecânica analisa esse processo? Tecnicamente, chamamos a caminhada de marcha humana e, ela tem características interessantes a se considerar.
Vamos conversar um pouco sobre isso? Meu nome é Liria, sou a Diretora de Pesquisa da Anamê e vamos conversar sobre o bebê nos seus primeiros mil dias…
Caminhar do bebê: a marcha humana
Primeiramente, temos que entender que o caminhar ou a marcha humana é um meio de locomoção que tem por objetivo principal nos levar de um lugar para outro. Ainda mais, essa atividade é essencial para a independência do indivíduo. Conversamos sobre ela, por exemplo, nos posts dos efeitos do uso de fraldas e da importância dos calçados biomiméticos, mas, não especificamos descrevemos como é a marcha. E, muitas pesquisas relacionam o desenvolvimento dela com o desenvolvimento neurológico e o crescimento músculo esquelético das crianças.
A marcha é considerada como um movimento cíclico dos membros inferiores, ou seja, movimentos que se repetem. Para se compreender melhor esse movimento, percebeu-se que a marcha é uma repetição de ciclos que são definidos como, o toque do pé no solo até o toque do mesmo pé no solo novamente, como mostra o lado em vermelho da figura abaixo.
A marcha do seu bebê: vamos analisar?
Pensando em como explicar e descrever a marcha humana pensei num desafio. Que tal analisarmos a marcha do seu bebê juntos? Logicamente, que uma análise profunda deve ser feita por um fisioterapeuta e/ou seu médico de confiança. Mas, uma análise geral pode ser feita por meio de filmagens simples de como seu bebê anda.
Antes de tudo, para analisar a marcha do seu bebê é preciso então filmá-lo caminhando, ou seja, filme o seu bebê andando pela perspectiva lateral.
Vamos explicar todo o ciclo de marcha e suas fases baseado nesta vista lateral. Para exemplificar o que vemos, vamos usar imagens de uma das avaliações que fizemos no Laboratório de Movimento Tridimensional.
O ciclo de marcha do bebê e suas fases
Como descrito anteriormente, vamos analisar a marcha por meio de um ciclo, ou seja, vamos observar como a perninha direita do bebê se comporta durante um ciclo de marcha. Vamos nos referir a perna direita como exemplo para facilitar mas, toda a análise pode ser feita com a perna esquerda também. Lembrando que há diferenças entre o lado direito e esquerdo dependendo da sua função como comentamos sobre assimetria.
Antes de mais nada é importante definir alguns conceitos básicos como o passo e passada. O passo começa com o contato inicial de um pé e termina com o contato inicial do outro pé, como mostra a imagem abaixo. A passada, que equivale a um ciclo de marcha, começa com o contato inicial de um pé e vai até o contato inicial do mesmo pé novamente, como no ciclo (no desenho anterior). Portanto, resumidamente, a passada é constituída por 2 passos.
Definido isso, vamos analisar as fases da marcha durante todo o ciclo, melhor falando em dois passos da mesmas perna. Divide-se então, o ciclo de marcha em duas fases: a de apoio e a de balanço.
Primeiramente, temos a fase de apoio que corresponde a 60% do ciclo de marcha. Essa fase tem esse nome porque o pé direito está sempre em contato com o chão, por isso o nome da fase de APOIO. Já a fase de balanço, correspondente a 40% do ciclo de marcha, o pé direito está em BALANÇO como o próprio nome da fase diz.
O que observar na marcha: fase de apoio
Olhando de forma mais detalhista, durante a fase de apoio a perna direita tem que fazer diferentes atividades. será necessário ter habilidades de equilíbrio e propulsão. Primeiramente, deve-se observar como a criança toca o solo. No adulto, o contato inicial do membro inferior acontece com o calcanhar, já com a criança no início da fase de desenvolvimento da marcha, o pé direito toca de forma total, como mostra a figura abaixo.
A criança, no início da fase de aquisição de marcha, ainda não desenvolveu o rolamento do pé, necessário para esta fase. Apesar disso, a perna como um todo aceita o peso do corpo e, essa fase é chamada de resposta a carga, correspondendo a 10% do ciclo de marcha. E, essa fase de aceitação de carga acaba quando o pé contralateral levanta do solo.
Apoio unilateral: estabilidade e mobilidade juntas
Estamos agora na fase de suporte unilateral. Em outras palavras, a perna suporta o peso sozinha, o que é desafiador para os bebês já que esta fase precisa de equilíbrio em um lado e mobilidade mo membro contralateral ao mesmo tempo para avançãr à frente.
Logo depois da fase de aceitação da carga até a saida do calcanhar direito estamos na fase de apoio médio e, chegamos a 30% do ciclo de marcha.
O calcanhar da perna direita começa então a sair do chão e, a perna contralateral começa a ter o contato inicial. Essa fase se chama apoio terminal e estamos nos 50% do ciclo de marcha.
Ao mesmo tempo que o pé contralateral está fazendo contato total com o chão, a perna direita está saindo do chão. Essa fase é chamada de pré- balanço e chegamos nos 60% do ciclo de marcha. Em outras palavras, completamos a fase de apoio e vamos para a fase de balanço.
O que observar na marcha: fase de balanço
Imediatamente após a fase de apoio temos a fase de balanço. A principal atividade dessa fase agora é a elevação do membro inferior direito até o contato inicial do pé direito novamente no chão. Divide-se a fase de balanço em: fase de balanço inicial, média e terminal. A fase de balanço inicial vai da retirada do pé direito do solo até as pernas ficarem paralelas, equivalendo a 73% do ciclo de marcha.
Logo depois, vem o médio balanço que geralmente é bem curtinho, até a tíbia direita fique vertical, correspondendo a 87% do ciclo de marcha.
Por fim, o último período chamado de Balanço terminal que termina com o contato inicial da perna direita.
A complexidade da marcha humana
São muitos detalhes de cada fase de um ciclo de marcha, não? Mas, é por meio delas que determinamos se é necessário algum tratamento, como por exemplo, mais força muscular para impulsão da marcha.
A marcha humana não acontece somente pelos movimentos dos membros inferiores mas, inclui também movimentos de todos os segmentos do corpo. Isso significa que qualquer alteração de movimento em um segmento induz a movimentos adaptativos de todo o corpo.
Além disso é importante considerar a influência dos estímulos e do ambiente, considerando que a exploração os recursos neuromusculoesqueleticos que a criança tem, vai ser associada a capacidade da criança em responder as demandas exigidas pela tarefa e do contexto.
Vale seguir as orientações de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria e reforçar o contato das crianças com a natureza.
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Anamê, tecnologias para cuidar da vida!
Espero que tenham gostado! Se tiver dúvida é só perguntar que iremos te responder!
Um abraço apertado, com carinho da Liria da Anamê
Dra. Liria Okai-Nóbrega. Pesquisadora, Doutora em neurociências e pós doutora em ciências da Reabilitação.
Referências
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