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Primeiros 1000 dias: por que cuidar?

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Os primeiros 1000 dias de uma criança incluem a gravidez e vão até os 2 anos de idade. Durante este período os eventos ocorridos terão grande impacto na modulação, positiva ou negativa, da herança genética recebida pelos pais. A ciência hoje enxerga este momento como uma janela de oportunidades para intervenções que trarão benefícios para o resto da vida, reduzindo ou mesmo prevenindo o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e outros problemas como os de saúde mental.

As DCNT são formadas por 4 grupos: doenças cardiovasculares (hipertensão, infarto, derrame), doenças respiratórias crônicas, diabetes mellitus e neoplasias (câncer) e atualmente são responsáveis por cerca de 70% de todas as mortes no mundo.

Estas doenças (DCNT) têm em sua origem uma pequena porção herdada, fixa e imutável, e uma grande influência do meio. Portanto, sabe-se que as características herdadas geneticamente são moduladas pelo ambiente, podendo ser mais ou menos expressadas, ou mesmo anuladas, de acordo as influências recebidas. Isso é chamado de epigenética, ou seja, modulação das características genéticas pelas experiências de vida.

Como podemos modular ou atuar para intervir de forma positiva nos primeiros 1000 dias de vida de uma criança? Eu sou a Dra. Beatriz Adriane, pediatra, e vou te guiar nessa jornada. Venha comigo!

 

Primeiros 1000 dias: Cuidados com a gestante

Os cuidados com o bebê se iniciam bem antes de seu nascimento, pois o ambiente em que o bebê é gerado influencia toda a programação de sua carga genética. Sabia que as condições da mulher nos 3 meses anteriores a gestação já interferem no futuro da criança? No entanto,  entram para a contagem dos primeiros 1000 dias “apenas” os 9 meses da gestação.

Cuidados durante a gestação

  • A grávida deve ter uma nutrição adequada em quantidade de calorias e variedade de nutrientes, além da suplementação de ferro, ácido fólico, vitamina D e ômega 3. No entanto, outras reposições podem ser indicadas de acordo com a alimentação e deficiências em casos específicos, como por exemplo as mães vegetarianas, que também devem fazer uso de vitamina B12.
  • O tabagismo, consumo de álcool e drogas durante a gravidez impacta diretamente na saúde do bebê. Por isso, quando a gestante fuma, por exemplo, o cordão umbilical se estreita para evitar que o bebê seja contaminado pelo cigarro. Só que, assim, o bebê também acaba recebendo menos nutrientes.
  • Existe um calendário vacinal próprio a ser realizado, a fim de evitar determinadas doenças na mãe e no bebê. Minimamente a gestante deve ser imunizada contra hepatite B, difteria/coqueluche/tétano (tríplice bacteriana acelular ou dTPa) e influenza. No entanto, outras vacinas podem ser indicadas de acordo com a situação epidemiológica (em surtos, por exemplo) ou histórico médico da paciente.
  • A saúde mental da gestante deve ser avaliada sempre, levando em conta que as alterações de humor pós parto se devem, em uma parte dos casos, ao agravamento de estados mais leves de depressão ou ansiedade já presentes antes da gravidez. Assim, a gestante deve ser orientada a manter tratamentos psiquiátricos em curso, pois sabidamente há medicações seguras para uso durante a gestação e amamentação. É de fundamental importância o planejamento da rede de apoio para o puerpério, fase muito desafiadora da vida da mulher.
  • É recomendada a manutenção de atividade física regular, com o intuito de manter a performance cardiovascular e a regulação do metabolismo, além da contribuição para a saúde mental, cuja importância já foi mencionada.

Primeiros 1000 dias: Hora de ouro

A primeira hora de vida do bebê é tão importante para seu futuro que é conhecida como hora de ouro (“golden hour”), um marco importante durante os primeiros mil dias.

  • Logo após o nascimento, o bebê deve ser colocado imediatamente em contato pele a pele com sua mãe. A não ser em caso de necessidade de assistência médica, os primeiros cuidados pediátricos devem ser prestados no colo da mãe, independente de via de parto (vaginal ou cesária). Este contato inicial possibilita o primeiro momento de conexão com a mãe, acalma o bebê, reduz o choro e estresse, regula os batimentos cardíacos e a respiração, mantém a temperatura, propicia a formação da flora (bactérias boas) do recém nascido, além de comprovadamente aumentar o sucesso do aleitamento materno;
  • É através da amamentação na primeira hora de vida que o bebê recebe sua primeira dose de colostro, uma “vacina” natural contra centenas de doenças. Esta primeira mamada libera hormônios que facilitam a descida do leite (apojadura) e ajudam a contração do útero, reduzindo o sangramento da mãe;
  • Caso o bebê não tenha necessidade de ser removido para assistência médica, não se recomenda mais o clampeamento imediato do cordão umbilical. Quando o cordão é cortado em momento ideal, preferencialmente após parar de pulsar, o bebê recebe mais sangue da placenta, apresentando menos anemia.

Estímulo ao desenvolvimento neuropsicomotor

O bebê nasce com uma imensa potencialidade e pesquisas mostram que nos primeiros 1000 dias, as células cerebrais podem fazer até mil novas conexões a cada segundo! Porém, as conexões entre os neurônios não formadas até os dois anos de idade dificilmente poderão ser realizadas no futuro. Para a formação destas sinapses o bebê deve ser estimulado continuamente a desenvolver novas habilidades, como:

  • Brincar! Brincar é uma das atividades mais importantes de uma criança, brinque com seu filho, deixe que ele explore ambientes e objetos;
  • Estimular a motricidade! Deixe o bebê se virar sozinho, nada como a necessidade para fazer o sapo pular! Ao longo dos primeiros meses tenha períodos de atividade física direcionada ao que se espera do bebê: entre 0 e 4 meses deixe de bruços para que ele consiga sustentar o pescoço e em seguida rolar; entre 4 e 6 meses deixe sentado (não, não força as costas!) e entre 9 e 12 meses em pé com mínimo de apoio possível (não, não entorta as pernas). Quando a criança começar a fazer o movimento de pinça, por volta de 1 ano, forneça brinquedos de coordenação motora fina: encaixar, empilhar, enroscar…;
  • Estimular a linguagem! Converse com seu bebê, leia para ele, cante músicas. Ensine os animais e seus sons, nomeie os alimentos que estão sendo consumidos, as cores e as partes do corpo. Evite o uso de telas (celular, tablet, computador e TV) até os 2 anos de idade;
  • Estimular as habilidades sociais! A conexão dos cuidadores com o bebê é o que mais o ensina a interagir com outros seres humanos. Seja amoroso, sorria, acaricie, dê colo.

Prevenção do stress tóxico

O estresse tóxico é causado pela ativação prolongada e repetida dos sistemas de defesa do organismo, superando a capacidade de regulação cerebral da criança (é mais do que ela pode suportar) e causando alterações cerebrais e psíquicas profundas, que perduram pela vida toda.

  • Um dos fatores mais determinantes da saúde mental do bebê é o bem estar emocional da mãe. É necessário aqui chamar a atenção para o fato de que a depressão pós parto é muito comum, mais comum que o diabetes gestacional, porém muito subvalorizada tanto pelas famílias quanto pelos profissionais. Mãe, assuma que não está bem e procure ajuda! Família e amigos, sejam rede de apoio! Profissionais, sejam empáticos e não minimizem os sintomas!
  • O apego seguro se refere ao vínculo positivo que a criança forma com seus pais quando recebe afeto e tem suas necessidades levadas em conta. Portanto, carinho e contato físico como colo e cafuné são necessidades fisiológicas tão relevantes quanto mamar e dormir!
  • A parentalidade positiva e não violenta são formas de desenvolver um bom relacionamento com seus filhos, evitando o estresse tóxico e promovendo a criação com apego. A criança que tem uma forte referência positiva desde a primeira fase da vida apresenta mais inteligência emocional, segurança, independência e autoestima.
  • Outra fonte inesgotável de saúde mental é o contato com natureza que, além disso, atua em vários outros pontos importantes para uma infância saudável, contribuindo significativamente para o bem estar integral da criança: favorece a imunidade; estimula o desenvolvimento sensorial e cognitivo, permite a socialização e reduz a violência; além de ser uma excelente atividade física. Se seu bebê vive em grandes cidades, busque por produtos que tenham essa preocupação natural.

 

Primeiros 1000 dias: Nutrição

A nutrição tem efeitos críticos sobre as funções do organismo e sabidamente modifica o genoma, sendo capaz de aumentar ou diminuir os riscos do desenvolvimento de doenças. Alguns pontos que precisamos cuidar são:

  • O aleitamento materno contribui para a redução de uma infinidade de doenças, está associado a melhores resultados cognitivos e potencializa o vínculo com a mãe. Por isso, a OMS (Organização Mundial de Saúde), o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam que seja exclusivo até os 6 meses de vida e mantido até os 2 anos de idade ou mais.
  • A introdução alimentar adequada, independente do método, deve ser iniciada após 6 meses de vida, com respeito à saciedade e autonomia da criança, fornecendo todos os grupos alimentares e sendo isenta ou restrita em sal, isenta de açúcar e ultraprocessados.
  • A alimentação saudável deve ser mantida ao longo de toda a infância, com consumo adequado de nutrientes e suplementação nos casos indicados (ferro, vitamina D, vitamina A, vitamina B12, zinco, cálcio).
  • Uma flora intestinal saudável contribui não só para a digestão e nutrição, sendo atualmente implicada na modulação de doenças alérgicas e metabólicas, além da prevenção de doenças infecciosas. A microbiota intestinal é influenciada pelo tipo de parto (vaginal ou cesárea), pelo tipo de aleitamento (materno ou artificial), pelo uso de medicamentos antibióticos e consumo de probióticos.

 

Medidas de higiene

As mudanças dos hábitos de higiene durante todo o processo evolutivo da humanidade são um dos fatores mais significativos para que o homem de hoje tenha uma maior longevidade. Por isso devemos também atentar para:

  • Higiene pessoal: medidas de autocuidado que incluem tomar banho diariamente, escovar os dentes, lavar as mãos, evitar compartilhar copos, pratos e talheres;
  • Higienização dos alimentos: lavar bem frutas e verduras, atentar para a conservação de alimentos perecíveis;
  • Higiene ambiental: manter o quintal limpo, destinar adequadamente o lixo, não queimar nenhum tipo de lixo, manter a casa limpa, higienizada, ventilada e com iluminação natural.

Primeiros 1000 dias: Políticas públicas de saúde

As políticas públicas, por definição, são conjuntos de programas, ações e decisões tomadas pelos governos nacional, estadual ou municipal que afetam a todos os cidadãos. Portanto, são também fundamentais para a plenitude dos primeiros mil dias.

  • A vacinação universal é imprescindível para o controle e erradicação de doenças infectocontagiosas. A importância da vacinação vai muito além da prevenção individual, ao se vacinar, você está ajudando toda a comunidade a combater as doenças imunopreveníveis;
  • O saneamento básico é um conjunto de serviços, que incluem o tratamento e a distribuição de água potável, coleta e tratamento de esgoto, drenagem urbana e coleta de resíduos sólidos. Os serviços de saneamento impactam diretamente na saúde, qualidade de vida e no desenvolvimento da sociedade como um todo;
  • segurança social.

Resumindo…

Oferecer condições favoráveis ao pleno desenvolvimento infantil na primeira infância é mais eficaz e gera muito mais retorno que o investimento após este período. Por isso, a intervenção precoce é infinitas vezes mais fácil que reverter ou minimizar os problemas mais tarde. Por isso, durante esse período faz muito sentido a máxima “prevenir é melhor que remediar”.

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Noeh, tecnologias para cuidar da vida!

Espero que tenham gostado! Se tiver dúvida é só perguntar aqui nos comentários que iremos responder!

Um abraço apertado, com carinho da Dra. Beatriz e da Noeh

Artigo escrito em parceria com a Dra. Beatriz Adriane Gonçalves, Médica Pediatra_CRM-MG 45768.

Dra Beatriz é médica pediatra pelo Hospital das Clínicas da UFMG e intensivista pediátrica pelo Hospital Metropolitano Odilon Behrens, mestranda em saúde da criança e do adolescente pela UFMG. Encontre a Dra Beatriz nos canais abaixo e a tenha pertinho mesmo de longe!

Instagram: @dra.beatrizadriane.ped             Telefones: (31) 2551-1510/ (31) 99413-0001

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