Se dissermos que a gestação pode continuar mesmo após o parto, você acredita? Bem, embora seja novidade para muita gente, é mais ou menos essa linha que a exterogestação vai seguir.
De modo geral, o conceito vai girar em torno de uma gestação para além do útero. Como você sabe, o bebê nasce com a capacidade de controlar funções vitais básicas. Dentre elas, podemos citar respiração, bombeamento cardíaco e ciclo do sono.
Contudo, algumas outras funções são adquiridas ao longo dos meses. A postura, por exemplo, melhora gradativamente conforme o baby aprimora seu tônus muscular. Mas o que tudo isso tem a ver com exterogestação?
Entenda o que é exterogestação
Primeiro, um pouquinho de história. O conceito de exterogestação foi criado pelo antropólogo inglês Ashley Montagu. Porém, se popularizou por meio do pediatra americano Harvey Karp. Ele costuma chamar a exterogestação de “O quarto trimestre”.
Sendo bem direto, esse conceito representa os 3 primeiros meses de vida do baby após o nascimento. O ponto-chave defendido por eles é que o desenvolvimento continua como se o recém-nascido ainda estivesse na barriga da mãe.
A fim de justificar isso, a explicação se apoia na evolução humana. Nós, da espécie Homo sapiens, adquirimos um cérebro de maiores dimensões no processo de evolução. Por isso, devemos nascer antes que o tamanho dele impeça a passagem na pelve materna.
Por isso, nascemos imaturos, antes que o sistema nervoso complete total desenvolvimento. Logo, os 100 primeiros dias de vida representam a extensão daquilo que começou ainda na barriga da mãe, no aspecto biológico e neurológico.
Então, já fica um aprendizado: é preciso muito cuidado nessa transição. Redobrar o zelo e adotar práticas que simulem a vida intrauterina podem ser fatores fundamentais.
Assim, aquela criança ainda imatura, com ações inespecíficas e movimentos limitados, vai continuar se desenvolvendo da maneira adequada.
Saiba qual a importância do conceito
Por mais que o baby nasça com funções vitais já estabelecidas, sabemos que há um longo caminho pela frente em prol do desenvolvimento. Agora, você já sabe que os 100 primeiros dias são cruciais para isso. Porém, vamos entender melhor a importância da exterogestação!
Então, uma pergunta: o que o choro dos pequenos pode indicar? Bem, inúmeras coisas, certo? Fome, dor, sono, desconforto e diversas outras possibilidades que exigem dos pais certa sabedoria para identificar.
Além do choro, vamos trazer à tona outro aspecto: a movimentação do baby. Nos primeiros meses, ainda são movimentos bem inespecíficos e limitados. Aos poucos, os babies adquirem um pouco mais de controle, como localizar um som ou capturar um objeto.
O que o choro e os movimentos iniciais têm de comum é: um desenvolvimento imaturo que ainda não possibilita aos pequenos terem consciência dos atos. É tudo muito impulsivo, baseado em evolução e reflexos.
Por isso, a exterogestação contribui para o aperfeiçoamento desses fatores. A cada dia, os babies se tornam mais expressivos e, ainda, mais intencionais com as ações. E, para isso, os pais podem ajudar, entendendo quais práticas viabilizam o bom desenvolvimento.
Veja como colocar em prática
Na prática, a exterogestação não é nada complicada. O que os pais precisam ter em mente é a necessidade de “recriar” o ambiente uterino fora do útero. Isso envolve algumas simulações que exploram os sentidos do baby. Veja abaixo!
Mantenha o pequeno embrulhado
Nas longas semanas de gestação, o abrigo do feto era um local relativamente pequeno. Além disso, ele ficava rodeado pelo líquido amniótico. Então, permanecia bem apertado num local úmido e quentinho.
Nesse sentido, manter o baby embrulhado, como se fosse um pacotinho ou envolto como um casulo, pode simular o ambiente uterino. Outra dica fundamental é o uso de sling — um tipo de carregador de babê que o mantém em contato com a pele dos pais.
Segure o baby de lado
Mais uma dica para praticar o contato pele a pele! Dessa vez, sem o uso de um acessório. Basta segurar a cabeça com uma mão e o corpinho com a outra, colocando a criança em contato com o seu corpo. Isso transmite conforto e calma para ela!
Balance a criança
Imagine só como é viver submerso em líquido ao longo de semanas. Agora, associe isso aos diversos movimentos realizados pela gestante. Bem, já dá para perceber que os pequenos balançam muito ao longo da gestação.
E por que não simular isso na exterogestação? Você pode utilizar um carrinho, uma bola de pilates ou até mesmo uma rede, o que o baby preferir!
Explore diferentes sons
Vale ressaltar que a audição é um dos sentidos que mais podem ser explorados. É muito poético pensar que os babies passaram semanas ouvindo os batimentos cardíacos da mãe. Porém, também escutaram alguns sons diferentes, como os movimentos intestinais.
Pensando nisso, algumas maneiras de simular os sons são: o barulho baixinho de um aspirador ou de um secador de cabelo — a distância, claro.
Conheça alguns mitos associados
Por fim, vamos desvendar alguns mitos relacionados com os primeiros 100 dias de vida. Um deles é se a criança pode dormir ou não no quarto dos pais. Sim, ela pode! A Academia Americana de Pediatria inclusive recomenda isso.
Já a partir do segundo mês, torna-se opcional. Porém, muita atenção com o que vamos dizer: nunca durma com o baby na cama dos pais! Existe um grande risco de sufocamento enquanto todos dormem.
Já outro mito bastante comum é que os pais não podem responder ao choro do baby, caso contrário ficariam mimados. Bem, já vimos que o choro é uma maneira de o pequeno se expressar. Não responder a isso seria uma grande negligência!
Igualmente importante é fazer cair por terra a ideia de que as mães cuidam melhor. Por mais que tenha seu papel de destaque, sobretudo em suprir necessidades do baby, os pais e demais familiares não só podem, como devem, cumprir o papel de rede de apoio.
Podemos concluir, enfim, que a exterogestação corresponde aos 3 primeiros meses após o nascimento. Ela representa não só a transição do ambiente intrauterino para o meio externo, mas também período crucial para o desenvolvimento do baby. Esperamos que tenha ficado claro as maneiras de colocar o conceito em prática! No mais, estejam atentos ao que acalma o babie e busque reproduzir isso.
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Referências
Gestação para além do útero. Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Do gesto ao símbolo: a teoria de Henri Wallon sobre a formação simbólica. Dossiê: cognição, interação social e educação.